Estamos a 5 de Maio de 2019: José Gomes sabe que vai viver um dos dias mais importantes da sua carreira, porque, na semana anterior, o Reading conseguiu a tão ambicionada permanência no Championship, que se tornou num dos campeonatos mais importantes do universo futebolístico.
Na visita a Middlesbrough, relativa à penúltima jornada daquela prova, os Royals estiveram em vantagem no marcador, na sequência do golo de Daniel Loader, mas acabaram por perder 2-1. Contudo, o sabor do amargo desaire foi compensado com o doce sabor da manutenção matematicamente garantida.
Viajamos na máquina do tempo até à temporada 1993/1994: Pinto da Costa foi rápido a garantir a contratação de Sir Bobby Robson, depois do inglório despedimento que sofreu no Sporting. O inglês não só recheou o museu dos dragões com cinco títulos como influenciou e apaixonou o jovem estudante José Gomes. Foi aí que começou a beber os principais ensinamentos técnico-tácticos do futebol de alto nível e nasceu o sonho de integrar o fenómeno futebolístico de terras de sua majestade. E esta intenção concretizou-se, depois de muito trabalho académico e, depois, profissional, desde a Distrital, ao serviço do Valadares, passando pelas experiências nos grandes Benfica e FC Porto, até ganhar prestígio internacional na Hungria, Arábia Saudita e, novamente, em Portugal, no Rio Ave, de onde deu o salto para o Reading, a realizar um mau campeonato, sem confiança dentro e fora dos relvados.
Voltamos, então, a 2018/2019, mais concretamente a 23 de Dezembro: o cenário de crise não intimidou José Gomes e, ainda mal se tinha instalado, já tinha como missão liderar tecnicamente os Royals no mítico Old Trafford perante o gigante Manchester United. A verdade é que, apesar do desaire por 2-0, o discípulo de Bobby Robson – sem esquecer outros mestres, como Jesualdo Ferreira, por exemplo – saiu do Teatro dos Sonhos com motivos para alguns sorrisos, merecendo, inclusive, os aplausos do mítico Ole Gunnar Solskjær.
O Record foi uma das publicações nacionais que transmitiu as inesquecíveis palavras do ainda treinador do Manchester United, como se pode ver ou rever aqui.
Desde o fôlego de Fevereiro até ao auge de Abril
É entre 2 de Fevereiro e 12 de Março que o Reading ganha o primeiro fôlego rumo à continuidade do Championship, com um ciclo de três vitórias e três empate em sete jogos disputados. Depois, a 30 de Março, com o triunfo sobre o Preston North End, por 2-1, o sonho vai ganhando contornos definitivos, surgindo, duas semanas mais tarde, três empates e um triunfo em quatro partidas, entre 10 e 22 de Abril, na sequência da sintonia perfeita com os jogadores e uma relação muito especial com o público.
A relação é tão especial que os adeptos começaram a criar o que passaria pouco depois a designar-se como o Dia de Portugal e ganharia, também, o apoio da direcção do Reading. A 30 de Abril, em Portugal, publicações como o Jogo transmitiam o vídeo a anunciar o histórico acontecimento, como se pode ver ou rever aqui.
Ingleses com aura portuguesa
Regressamos, novamente, a 5 de Maio: é tempo de José Gomes viajar até ao Madjeski Stadium e de começar a ver adeptos ingleses, que, por momentos, se tornam portugueses, com caras pintadas e as cores da bandeira nacional, tal como outras referências nacionais bem presentes na sociedade inglesa, como o Vinho do Porto, o que ainda é mais especial, considerando que José Gomes é natural de Matosinhos. O ambiente nas bancadas é notável e não deixa de surpreender José Gomes e os compatriotas do seu staff, que tiveram no plantel os portugueses Tiago Ilori e Nélson Oliveira, mas só o avançado chegou ao fim desta aventura.
A partida com o Birmingham terminou com o empate sem golos, mas, com o objectivo concretizado há uma semana, a festa de mais um sucesso de José Gomes lá por fora voltou a ser realidade.
Veja aqui o resumo do duelo com o Birmingham.
Futuro made in England?
José Gomes confessou, em entrevista recente à BBC, que ambiciona voltar a Inglaterra, mas, na mira, tem, também, o sonho de regressar a um grande português. Todavia, o foco está apenas no Marítimo, com “potencial fantástico” para recuperar o ritmo europeu, como sublinhou ao Vamos Falar de Futebol 10.