Eulânio Ângelo Chipela Gomes nasceu em Coimbra e o nome pode dizer pouco aos leitores, mas se falarmos de Nanu, o internacional da Guiné-Bissau que brilhou no Marítimo e que foi contratado pelo FC Porto, o caso muda de figura. Para conhecer o melhor o reforço portista, O JOGO conversou com José Gomes, antigo treinador da equipa madeirense, que se identificou as armas do guineense. “O Nanu tem na velocidade uma das suas principais características. Fisicamente é muito forte. É incrível como chega aos últimos minutos com capacidade para sprintar e desequilibrar. Tem ainda uma boa capacidade de remate ”, destaca o atual treinador de Almería.
José Gomes acredita que, aos 26 anos, Nanu ainda pode corrigir alguns aspetos. “ Tecnicamente tem de melhorar os cruzamentos. Algumas vezes nem era necessário de cruzar, era só fazer um passe para trás, mas isso era uma guerra que eu tinha com ele. Fez algumas assistências, porque tem muita facilidade em chegar à linha de fundo. Estando lá, tem facilidade em progredir e de aproximar-se da baliza. Havendo essas linhas de passe, é aconselhável que faça um passe para trás em vez de fazer o cruzamento ”, explica.
O treinador revela mesmo que teve muitas conversas com o jogador. “Ele ouvia bem o que lhe pedia. Que remédio tinha ele … ”, conta, bem humorado, elogiando a predisposição do jogador. “Gosta de aprender, mesmo que em alguns momentos resista, apresenta argumentos que o defendam. Mas depois é capaz de refletir, até porque fornecíamos imagens dos lanças dele e, no dia seguinte, reconhecia que tínhamos razão e pedia ajuda para melhorar em determinados aspetos. Gostei muito de trabalhar com ele ”, admite.
Utilizado em 35 jogos em 2019/2020, Nanu deixou boas recordações. “É um jogador destemido. Defensivamente agarra os duelos e vai ganhando pontos à medida que o jogo vai passando nessa luta direta com o adversário que está mais próximo. Depois de desarmar o adversário e de recuperar a bola, sabe que está a somar pontos. Ofensivamente faz coisas destemidas ”, destaca, elogiando a determinação do jogador. “Não tem medo dos duelos individuais. Há jogadores que se protegem mais porque não gostam de se expor aos duelos individuais, mas ele não tem medo desses duelos, sejam defensivos ou ofensivos. É capaz de ir para cima de um adversário, pode perder a bola, mas a seguir vai novamente para cima dele ”, frisa.
O antigo treinador do Marítimo recorda o comportamento competitivo de Nanu no final de alguns jogos. “Se ele conhecer o adversário direto, é capaz de falar com ele e dizer-lhe quantas vezes ganhou os duelos individuais. É muito competitivo e isso é bom para o desenvolvimento do jogador ”, destaca.
Apesar de poder jogar como lateral-direito e extremo, José Gomes acredita que é na defesa que rende mais: “Como lateral dá profundidade, como extremo não gosto tanto. Especialmente numa equipa como o FC Porto, que está na organização ofensiva na maioria dos jogos. Defensivamente garante que as coisas ficam resolvidas, e daí que goste mais de o ver a lateral. Agora, tive muitos jogos em que ele foi fantástico a jogar ao extremo, mas com abordagens de jogos diferentes, a juntar linhas, a convidar o adversário a sair e usar esse espaço com a velocidade dele. Mas não me parece que o FC Porto tenha muitos jogos a esse nível. Talvez na Champions isso possa acontecer ”, referiu.
José Gomes admite que não ficou surpreendido com a transferência. “Não sabia que ia para o FC Porto. Falava-se até que o Braga estava interessado. O que não me surpreendeu foi haver clubes interessados, porque fez uma época extraordinária. Depois tem uma coisa: nunca deixou de treinar. Levou uns toques, umas pancadas, mas nunca parou. E manteve a titularidade absoluta, setor sempre regularidade.
Reforço portista ajudou a Guiné-Bissau a vencer
Nanu jogou ontem aos 90 minutos pela Guiné-Bissau, contra Moçambique, e ajudou a seleção a vencer por 1-0, tendo alinhado como lateral-direito. Num jogo disputado no Estádio Municipal de Óbidos, de preparação para o apuramento para a Taça de África das Nações’2021, os guineenses venceram com um golo de Bura, aos 63 ‘. Nanu volta a jogar pela Guiné-Bissau terça-feira, contra Angola.
“Fora do campo é reservado”
José Gomes destaca a humildade de Nanu, mas também a “vontade que tem para trabalhar e a mentalidade que permite crescer como pessoa e como jogador”. E se em campo é destemido, fora é diferente. “É uma pessoa reservada. Fica no canto dele, não é muito expansivo. Não é um jogador que se destaque em termos sociais por fazer barulho ou por estar sempre a falar ”, reconhece, certo que isso não vai dificultar a adaptação. “É boa pessoa e vai integrar-se facilmente. É uma pessoa de trabalho e numa casa como o FC Porto isso ajuda muito ”, lembra.