José Gomes, 50 anos, tem como objetivo subir o Almería à primeira divisão (está em 3.º lugar, a três pontos de Espanhol e Maiorca), mas a sua equipa tem sido também sensação na Taça do Rei. Está em alta, mas com os pés no chão.
MADRID – Como surgiu a possibilidade de rumar ao Almería, na segunda divisão do futebol espanhol?
– Estava na Madeira num jantar de despedida da temporada passada quando recebi o telefonema com o convite. Falei com o presidente do Marítimo, que não pôs problemas, e aceitei. Vim para dirigir a equipa no play-off de subida à primeira divisão, mas não alcançámos o objetivo. Foi tudo muito complicado, era o final da época, tinha havido várias mudanças de treinador e, para dificultar ainda mais a situação, havia o coronavírus, fiz mais testes PCR do que treinos. No desporto de alta competição o relacionamento entre técnicos e atletas é fundamental, ao não haver isso o espírito de equipa deixa de existir. Foi uma luta difícil, mas agora cá estou a abraçar o projeto com toda a minha energia.
– O Mário Silva tinha sido o seu antecessor, falou com ele?
– Sim, partilhou comigo tudo o que sabia sobre o clube e os jogadores. Também falei com o Pedro Emanuel, que foi quem iniciou o projeto e com quem tenho uma boa relação desde os tempos no FC Porto.
– Ao perder o play-off temeu ser despedido?
– Quando não se ganha corre-se sempre esse risco. Muitas pessoas pensam que a vida de um treinador é fácil, que só têm que treinar os jogadores durante a semana e esperar que eles ganhem ao fim de semana, é uma vida de pressão e exigência permanentes. Dos adeptos, dos media e dos donos dos clubes que querem para ontem resultados positivos e o retorno do investimento. Esta é a nova realidade para a qual temos de estar preparados. Não tinha ficado surpreendido se me tivessem despedido, mas ainda bem que o dono teve visão e paciência para me dar tempo para pôr em prática as minhas ideias.
– Fala-se muito da sua arrojada política de rotatividade…
– Aconteceu que tínhamos nove jogos, todos muito importantes, e a minha opção foi a de rodar toda a equipa. Em vez de mudar dois ou três, mudei os onze, foi uma forma de mostrar a minha confiança em todo o plantel. O grupo ficou mais forte porque todos se sentiram parte da solução. As coisas estão a correr bem, não chegámos ainda ao nível que queremos, mas estamos cada vez mais próximos e continuamos na luta.
– Como é que se sente pelo facto de ser um treinador da moda no futebol espanhol?
– Não me deixo iludir e aconselho o mesmo aos meus jogadores. Digo-lhes sempre que é preciso ter cuidado com os elogios. Estamos contentes com o que temos feito até agora, mas isso não nos pode fazer distrair, ganhar um jogo pertence imediatamente ao passado, se relaxamos é fatal. Não sei se sou treinador da moda, só sei que continuo a trabalhar da mesma maneira, consciente de que nada se consegue sozinho, tudo é resultado do trabalho de equipa. No futebol tudo acontece muito rápido, ganhamos um jogo e tratam-nos bem, perdemos o seguinte e tudo muda. Os anos que levo disto já me ensinaram a ser precavido.
Leia a entrevista na íntegra na edição impressa ou digital de A BOLA.